Nesta entrevista, conversamos com Thais Torritani, Líder Global de Integração ESG e Diversidade de Compras da Procter & Gamble Company (P&G). Ela destaca o desafio da empresa para ampliar o impacto positivo na sociedade de uma forma que gere crescimento de negócios no longo prazo e que aumente o orgulho de funcionários, além de ajudar a companhia a refletir a realidade demográfica brasileira na diversidade de colaboradores e parceiros de negócios.
Como o tema diversidade e inclusão são trabalhados dentro da Procter & Gamble Company (P&G)?
Trabalhamos para ser uma força do bem voltada ao crescimento. Queremos fomentar reflexões, conhecimento e consciência. Através da plataforma P&G Racial 360º, promovemos iniciativas que permeiam quatro esferas: os colaboradores, as marcas e o compromisso com parceiros e com a comunidade.
No ambiente interno, com os colaboradores, a companhia realiza o mês da “Consciência Negra”. Dentre as atividades do período, temos talkshow com funcionários negros, treinamento em argumentos e reações a comentários racistas, atrações musicais e lives. O programa “P&G para Você” visa desenvolver estudantes negros com aulas de inglês e mentoria.
Como a empresa promove quem está dentro da empresa, é muito importante a entrada de jovens negros no estágio gerencial para garantir que a diversidade étnico-racial esteja presente a longo prazo no quadro de funcionários. Para isso, a companhia fechou parcerias com os coletivos negros das universidades e com a Empodera (Consultoria em Recursos Humanos e Diversidade Étnico-Racial). A empresa também se faz presente em outros eventos importantes para a divulgação de novas oportunidades.
Nas iniciativas com as marcas, a empresa acredita que pode inspirar mudanças reais e duradouras. Por isso, mudou a forma de fazer publicidade para incentivar conversas importantes e com representatividade, lançando campanhas inclusivas.
Já com os parceiros, atuamos na capacitação de empresas pertencentes a grupos de diversidade construindo uma base de fornecedores diversa. Temos um programa global para empreendedores que já teve três edições no Brasil e está em vigor uma outra iniciativa através da Movimento Black Money, o “Construindo um Futuro Digital”, com o objetivo de alavancar o desenvolvimento de empresas pertencentes a empreendedores negros. Atuamos em parceria com instituições como Integrare e We Connect.
Na atuação com as comunidades, a escolha estratégica da companhia é focar no desenvolvimento integrado da infância em parceria com a United Way (associação que dedica recursos e talentos para transformar e melhorar a realidade de outras pessoas e comunidades ao redor do mundo), com programas de mentorias e desenvolvimento da primeira infância, com apoio para a iniciativa "Um Milhão de Oportunidades", da UNICEF.
Como continuidade da Aceleradora P&G Social, seguimos apoiando o projeto “Capacita-me”, que atende pessoas desempregadas em situação de vulnerabilidade socioeconômica com cursos gratuitos. Também iniciamos a parceria com a Tree - Consultoria e Educação em Diversidade e Inclusão, com o incentivo a “Trilha de Desenvolvimento para Talentos Negros” promovida para atingir especialmente mulheres negras, que estejam em situação de maior vulnerabilidade. Continuamos com o apoio a fintech Coletando, com a implementação de ecopontos móveis em São Paulo.
Na sua visão, quais são hoje os principais desafios da P&G em relação à diversidade e inclusão?
Queremos ter um impacto positivo em nossa sociedade de forma que gere crescimento de negócios no longo prazo e aumente o orgulho dos funcionários, além de ajudar a companhia a refletir sobre a realidade demográfica brasileira na diversidade de nossos colaboradores e parceiros de negócios. A estrutura tem atuação nas iniciativas de recrutamento, desenvolvimento e de comunicação, buscando garantir a representação da população brasileira em todos os pontos de contato de marketing.
Se olharmos a representatividade de pretos e pardos no escritório central de São Paulo, nos últimos dois anos, tivemos um crescimento de 63%. A representatividade ainda é baixa, mas sabemos que é uma jornada contínua que requer ações afirmativas. Quando olhamos a presença da empresa no país, a representatividade é de 32%.
A busca pela igualdade de gênero, que sempre foi uma das prioridades da companhia, também foi reforçada. Por isso, sempre nos asseguramos de revisar as métricas de diversidade de gênero nas discussões de talentos com a liderança, avaliando anos anteriores, cenário atual e tendências. Asseguramos que toda contratação ou promoção conte com uma candidata mulher e um candidato homem. Os dois devem ser avaliados igualmente pelo perfil, experiência, conhecimento que se está buscando, porém nunca deve ser dada somente uma opção ao gestor. Hoje, cerca de 40% do nosso quadro de funcionários é composto por mulheres e queremos chegar a 50/50. Se olharmos no nível gerencial, já atingimos a igualdade com 50% de mulheres.
E dentro desse cenário, como você vê a parceria com o Integrare e as oportunidades de projetos que podem ser desenvolvidos com os fornecedores da plataforma?
Enxergamos a Integrare como um facilitador de contato com potenciais fornecedores. Acreditamos que, por meio dessa parceria, podemos colaborar com seu desenvolvimento, assim como fizemos no programa para afroempreendedores “Racial 360” realizado no fim do ano passado.
Além disso, a Integrare também possibilita a conexão com outras grandes empresas do mercado através da qual podemos aprender boas práticas e participar de discussões, fomentando e expandindo o impacto para a mesma causa. Pensando no curto prazo, a Integrare nos suportará sendo o órgão certificador de empresas pertencentes a negros participantes de nossas licitações e, no longo prazo, será peça chave para a manutenção da representatividade de empresas diversas em nossa rede de fornecedores.
Esperamos poder aprender mais sobre os empreendedores, como acelerar seu crescimento e minimizar suas dificuldades no mercado. Por fim, quando em nossa base de fornecedores, vamos trabalhar em conjunto com as associadas Integrare para o crescimento de seus negócios na P&G.
Como a P&G pode auxiliar os pequenos negócios conduzidos por representantes de grupos de minorias?
Além de enxergar a diversidade como uma vantagem competitiva, para mantê-la como um pilar intrínseco à companhia, temos como meta global ter $5Bi de dólares até 2030 alocados com fornecedores diversos e, para atingi-la, estamos buscando mais intencionalmente trabalhar em nossa gama de fornecedores, tentando incluir ao menos uma empresa diversa quando prospectamos no mercado. Caso não haja alocação, fornecemos um feedback de melhoria para futuras oportunidades.
Uma outra forma de impacto que trabalhamos é gerar o efeito cascata na nossa cadeia de suprimentos por meio de programas de desenvolvimento, treinamentos e palestras com empreendedores de diversidade. Com isso, queremos contribuir no crescimento e expansão de seus negócios, independentemente de ser ou não fornecedor P&G.
Como exemplo disso, realizamos no ano passado workshops, um voltado às mulheres chamado “She2B”, que esteve em sua terceira edição, e, em âmbito regional, englobamos vários países da América Latina. Fizemos também o primeiro programa local voltado à empresas pertences a negros nomeado “Racial 360º”. Como já mencionado, ambos contaram com trilhas de aprendizado de diversos temas buscando compartilhar experiências e conhecimento com os empreendedores selecionados.